Hoje, estou certo de ter vivido pois sei que o fiz sempre que estive contigo. Vivi naquelas tardes à beira-mar onde, na areia, deixámos pegadas de um projecto conjunto. Um projecto onde tu e eu construíamos, de raiz e com a força que jurámos ter sempre, uma vida de amor e entrega, simples, sincera, genuína. Um projecto feito de nós para nós e onde o “eu”, o mais egoísta dos pronomes, deixou de fazer qualquer sentido. Hoje, sei que vivi naqueles piqueniques, escondidos, que fazíamos em sítios que ambos sabíamos ser proibido mas onde nunca hesitámos estender a toalha e falar horas e horas, sem fim, pela noite dentro. Hoje, sei que vivi em todos os ramos de flores que te colhi em quintais e jardins alheios mesmo que para isso, muitas das vezes, tenha fugido sem olhar para trás não fosse eu apanhado por te amar tanto. “Doido”, chamavas-me tu e não deixavas de ter razão pois era, sou e sempre hei-de ser “Doido” por ti e só para ti. Hoje, sei que vivi sempre que te vi fazer aqueles barquinhos de papel que dizias seguirem, na água, o destino deles mesmos até que, simplesmente, se desfaziam tornando-se parte do rio. O mesmo rio onde, em subtis brincadeiras, atirávamos água um ao outro até que estávamos demasiado perto para não nos beijarmos…
E tudo passou, o teu barco de papel completou o seu caminho e tu tornaste-te parte do rio… tudo se desfez. Tudo, excepto a força que jurámos ter sempre e, hoje, sei que vivi porque me amaste, porque te pude amar, e não há areia onde não deixe pegada, nem quintal ou jardim onde não colha flores no caminho para o rio onde, logo após estender a toalha, vou mergulhar para te beijar… como antigamente. Hoje, estou certo de ter vivido pois sei que o fiz sempre que estive contigo e não me importo que me apanhem por ainda te amar tanto. Chama-me “Doido”…