Cheguei a casa, despi o casaco e reparei que, nas costas, ainda trazia alguma da relva onde nos deitávamos. Não era uma coisa que costumasse fazer mas hoje é, sem dúvida, algo a repetir. Ali estávamos nós, deitados, debaixo do céu e em cima da terra, unidos pelo mesmo pensamento, pelo mesmo sentimento, pelo mesmo amar. Tu sabias que eu te amava, eu sabia que tu me amavas, ambos o sentíamos e ninguém o mencionou. Porquê? Talvez por ainda ser tudo muito novo, talvez por ser bom demais para ser verdade ou porque, simplesmente, não havia palavras que o descrevessem. A tua mão desafiava a vergonha, enquanto me procurava, e o teu coração contradizia o silêncio em dueto com o meu, como sempre. Era tão bom amar assim, numa simplicidade tão nossa… De certo que havia quem preferisse outras manifestações mas aquela era a nossa forma de sentir, de viver um pelo outro e para o outro. Não queria estar noutro lugar. Que fazíamos nós ali deitados? Não sei. Não faço ideia. Não queria estar noutro lugar. Hoje cheguei a casa, despi o casaco e reparei que, nas costas, ainda trazia alguma da relva onde me deito sozinho, sempre que me sinto só. Desta vez, era apenas relva nas costas do casaco…