Faz-me sentir bem...e a ti?
E, nunca saciado,
Vai colhendo
Ilusões sucessivas no pomar
E vendo
Acordado,
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças.
Miguel Torga, Diário XIII
Hoje estive na praia sozinho. Lembrei-me daquela vez que fomos os dois já de madrugada, lembras-te? Foi numa das primeiras vezes que saímos, acho que a terceira talvez. Tínhamos combinado um jantar entre amigos, daqueles amigos que se amam, sabes? Lembro-me como se fosse hoje. Levaste uma túnica amarela com umas alças muito finas que te faziam sobressair os ombros, parecia feita para ti. Não ficaria bem a mais ninguém. No pescoço usavas um fio muito discreto como que a marcar o sítio a partir de onde eu poderia beijar. E tanto que eu pensei nisso. Beijo? Não beijo? Bem-me-quer? Malmequer? A completar o resto, a mesma ganga de sempre, simples e confortável que ia acabar numa sandália típica de verão, prática, simples, nada daquelas coisas trés chique que usam as pessoas fúteis. Estavas linda, estavas tu, achei-te linda para sempre. Ainda sei o que pediste para o jantar. Uma daquelas saladas naturais típicas de ti mesma, cheias de cor e coisinhas vindas de todo o mundo. Por momentos, fiquei a olhar-te enquanto comias. Acho que nem reparaste mas naquele momento amei-te outra vez. Mais tarde, depois de horas de conversa, entrelinhas e sorrisos envergonhados, saímos do restaurante. Sítio interessante, lembras-te do nome? Decidimos passear à beira-mar, debaixo do olhar atento da lua que me piscou o olho, sem tu veres. Passeámos de mão dada, ainda hoje sinto a tua mão. Como não podia deixar de ser - não fosse eu tão distraído - molhei as calças todas e tu riste de mim, comigo, para mim. Que sorriso lindo! Acho que não reparaste mas naquele momento amei-te outra vez. Quis tanto beijar-te. Beijo? Não beijo? Bem-me-quer? Malmequer? Beijei mesmo, ainda hoje sei o teu sabor, trago-o na boca. É só o que tenho de ti. Hoje estive na praia, sozinho. Na areia escrevi “amo-te”, na esperança que alguma onda leve o meu amor até ti. Quanto ao restaurante, esse chamava-se “Sabor amar”.
Tu não gostas de mim.
Ele gosta de ti.
Nós? Não daria certo.
Vós estais melhor assim.
Eles estão melhor sem mim.
Eu estou bem.
Tu ficarás melhor.
Ele idem aspas.
Nós? Não daria certo.
Vós tendes tudo para dar.
Eles estão melhor sem mim.
Eu fico bem comigo.
Tu ficas bem com ele.
Ele fica mal sem ti.
Nós? Não daria certo.
Vós gostais um do outro.
Eles estão melhor sem mim.
DB
Hoje estava a dar na TV, um daqueles filmes que nos fazem pensar que o amor é fácil. Mudei de canal…
Esta noite já estive na cama, estive lá tão sozinho que nem o sono se deitou comigo. O teu lado da cama estava tristemente arrumado e nem sequer tentaste ocupar o meu. Senti a falta dos teus braços e da tua cabeça no meu peito, estranhei, não gostei. Agora são duas da manhã e circulo pelo quarto à deriva interrogando-me porque não chegas tu. Onde estás? Porque não dizes nada? Já não estou habituado a estar sem ti, se é que alguma vez estive. Ando, sem jeito, e por pouco não tropeço nas botas que deixaste, ao acaso pelo chão. Sabes quais? Aquelas que de tão diferentes só te ficam bem a ti. Aquelas com que tentavas pisar-me sempre que dançávamos e eu não deixava. Riamo-nos tanto…. Já as arrumei para que não tropeces tu quando chegares. Ainda sinto o teu perfume naquela minha t-shirt que usaste para dormir. É a que mais gosto e por isso mesmo ta ofereci. Paro para pensar enquanto olho a nosso foto ao lado do despertador, a que tirámos no dia do nosso primeiro beijo, lembras-te? Riamo-nos tanto… Já pouco falta para as 3h da manhã e não chegas. Estou preocupado, desesperado, sinto a tua falta e apetece-me chorar porque tu não estás. Mas eis que o relógio toca e levanto-me sobressaltado para te procurar, quando afinal não são 3 mas sim 6 da manhã. Na cama continuo sem ti e agora sou dono do espaço que será teu quando quiseres. A minha t-shirt preferida, que o teu corpo perfumava, tenho-a eu vestida e as botas, que te ficam tão bem, não estão pelo chão do quarto em lado nenhum. Na nossa foto só já estou eu, como se fosse apenas metade e do nosso primeiro beijo não guardo nada senão a vontade. Estou só, sempre estive, tudo continua igual ou então tudo mudou da noite para o dia, não sei, estou confuso, mas há algo que permanece, a vontade de chorar porque tu não estás. Agora peço-te, vem deitar-te na nossa cama, vem pisar-me enquanto dançamos, desarruma o meu quarto, desorganiza o meu mundo e vem sorrir na nossa foto. Entra na minha vida e deixa-te ficar, nem que seja nos meus sonhos… vamos rir-nos tanto.
O meu telemóvel já não toca, não porque lhe tenha tirado o som ou porque o equipamento não permita, simplesmente já não toca. Tenho-o sempre comigo, de manhã, à tarde, à noite, no bolso, na secretária, na mesinha de cabeceira mas ele simplesmente já não toca. Não toca, não me fala, não diz nada e nem sequer brinca comigo aos toques. Fica mudo, vive calado e também já não me escreve aquelas mini cartas de amor que só ele me dirigia. Sabia sempre o que me dizer mesmo quando eu, derrubado pela tristeza dos dias, nada lhe respondia e muitas vezes nada me dizia quando eu precisava apenas de ser ouvido. O meu telemóvel já não toca, não me fala, não me escreve e nem me convida para sair. Já não passeamos como fazíamos, ao fim da tarde, à beira-mar e já mal me recordo do último filme a que assistimos juntos. Pergunto-me se estará bem, se o magoei ou se precisa de mim mas como ele já não toca, não me fala, e nem me convida para sair, deito-me todas as noites com a angústia típica de quem passa os dias sem perceber nada, à espera…quem espera sempre alcança? Ou o meu telefone já não é meu? Não quero saber e já nem o trago sempre comigo. Ele que não me ligue mais, que não me escreva nem palavra, nem frase, nem carta e muito menos… Adorava continuar a escrever mas tenho de parar, acho que o ouvi tocar…