Por vezes sinto-me tolo por me agarrar às pequenas coisas do passado mas se não o tivesse feito hoje não teria presente e a tua foto não estaria na parede, nem o teu perfume no sitio onde o deixavas sempre…em mim. A foto foi da noite em que saímos com um destino programado apenas pelo próprio destino. Já era hábito, lembras-te? Dizias que o nosso amor jamais nos poderia levar a um sítio onde não quiséssemos estar e eu acreditava que sim. Seguia-te com a determinação e certeza próprias dos apaixonados e fá-lo-ia pelo menos até ao fim do mundo sem fraquejar ou duvidar. Ingénuo? Talvez, se fosse essa a condição dos que amam verdadeiramente. E eu amava a cada passo. Após caminharmos um pouco, o tempo levou-nos a uma daquelas fontes onde jazem, no fundo, os corpos dos sonhos mortos de tanto casal apaixonado. Idealizados, despedaçados, amontoavam-se como que lutando por chegar à superfície para que mais uma vez fossem sonhados. Atirei uma moeda, sonhei eu também e sentámo-nos tão perto da água que consegui ouvir alguns deles “Quero-te para sempre” “Que o nosso amor nunca termine”… - Pobres desgraçados que ali perdiam o coração. Será que também ouvias? Pensei eu por momentos, a sós, para dentro. Foi então que os nossos reflexos se encontraram na água que, sem eu saber como, se tinha apoderado dos teus olhos. Acabava ali, diziam eles… e os sonhos mortos eram os meus.